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Foto do escritorArq.Gabriel Noboru Ishida

Portas de correr ou de abrir?

Atualizado: há 6 dias



Vivemos em uma época privilegiada, onde, por valores relativamente acessíveis, é possível adquirir mobiliários com acabamento de altíssima qualidade e conforto. No entanto, nem sempre foi assim. Ao longo das décadas, a evolução dos materiais e das técnicas de fabricação permitiu que a produção de móveis atingisse um nível de precisão e suavidade que antes era restrito a peças feitas artesanalmente e a preços elevados.


Atualmente, graças à tecnologia e à industrialização, temos acesso a ferragens modernas e sistemas de abertura que garantem suavidade e durabilidade, seja em portas de correr ou portas de abrir. Mas é importante resgatar como essa evolução ocorreu. Houve um tempo em que as opções eram limitadas, e móveis que oferecessem praticidade e qualidade eram exclusivos de uma elite. A popularização dos métodos de produção, a introdução de novos materiais e a busca constante por inovação na marcenaria e na arquitetura de interiores foram fundamentais para democratizar o acesso a mobiliários funcionais e esteticamente sofisticados.


Um pouco de história


As primeiras portas deslizantes residenciais conhecidas têm origem no Japão, e eram chamadas de fusumas e shojis. Essas portas ou divisórias deslizantes eram feitas com uma base de madeira que deslizava em canaletas perfeitamente ajustadas, lubrificadas com cera ou sebo animal, sem o uso de rolamentos. Elas eram fixadas também no trilho superior, proporcionando estabilidade e deslize suave. Esse conceito japonês foi o primeiro a ser incorporado na cultura ocidental, trazendo uma nova forma de divisórias e portas.

Enquanto isso, no ocidente, as portas deslizantes com rolamentos eram mais comuns em ambientes rurais e industriais, como fazendas e galpões, mas é improvável que tenham sido amplamente usadas antes da Revolução Industrial. Embora a tecnologia de rolamentos existisse, seu alto custo a tornava inacessível ao usuário comum, possivelmente até o Renascimento. Em contraste, as fusumas eram um padrão secular no Japão, funcionando em um contexto onde a segurança não era uma preocupação primária — as portas e casas japonesas, feitas de papel de arroz, não precisavam barrar invasores. Era uma época marcada por um código feudal e cavalheiresco, onde os combates com espadas eram comuns.

Com a Revolução Industrial, surgiram portas com trilhos de ferro batido e estilos forjados em ferro fundido, mas sem a suavidade das portas rolamentadas modernas. Esses sistemas não eram silenciosos como os atuais, que utilizam rolamentos (ou "rolimãs") para garantir um deslizar suave, estável e silencioso, prolongando a vida útil do mecanismo. Já os móveis com portas deslizantes no ocidente, assim como as gavetas que utilizavam contato direto de madeira com madeira, eram praticamente inexistentes até o modernismo, quando o design e a marcenaria começaram a explorar novas possibilidades e materiais. Na época, era comum usar cera de vela para lubrificar gavetas, algo que evoluiu para as corrediças telescópicas de aço que conhecemos hoje, proporcionando mais praticidade e funcionalidade.




Vantagens e desvantagens em móveis


Embora portas de correr e de abrir sejam temas amplos na arquitetura, vou focar no mobiliário para analisar suas características.


Portas de Correr:

As portas de correr são valorizadas por sua sofisticação e pelo fato de economizarem espaço no ambiente, pois não exigem uma área livre para abrir. No entanto, ao serem aplicadas em móveis como guarda-roupas, é importante considerar que o trilho e as folgas necessárias ocupam cerca de 7 a 8 cm de profundidade. Além disso, o sistema deslizante nunca permite uma abertura total do vão: com duas portas, uma sempre bloqueia parte do móvel, e com três portas, menos de um terço fica acessível a cada vez.


Um problema frequente é o "pescador" — o mecanismo que amortece o movimento da porta. Mesmo com a tecnologia avançada e a variedade de modelos disponíveis, não é incomum que ele se desencaixe, exigindo ajustes frequentes. Pequenos movimentos ou o manuseio incorreto podem causar desalinhamento, fazendo com que a porta não feche ou funcione corretamente.


Portas de Abrir:

Já as portas de abrir, que alguns consideram "antigas" ou “tradicionais”, têm suas vantagens. Elas oferecem total acesso ao móvel, permitem uma manutenção simples e são mais duráveis. Embora ocupem espaço na abertura, geralmente entre 30 a 50 cm, elas garantem acesso total ao conteúdo do móvel e são fáceis de ajustar e consertar. A instalação de dobradiças com amortecimento também reduz ruídos e impacto ao fechar, tornando-as tão elegantes quanto as de correr.


As portas de abrir, no entanto, não são ideais para móveis que precisam de grandes espelhos, pois a abertura e fechamento frequente poderiam comprometer a integridade do material. Mesmo assim, pela simplicidade e funcionalidade no dia a dia, são uma escolha prática e confiável.


Conclusão:

Pessoalmente, prefiro as portas de abrir para o uso cotidiano, pela durabilidade, simplicidade e o acesso total que proporcionam. Em minha residência, utilizo os dois sistemas e, com base nessa experiência, sempre recomendo as portas de abrir para quem busca um mobiliário funcional e duradouro.




Acabamentos


A escolha dos puxadores é um aspecto importante ao decidir entre portas de abrir e correr, pois certos estilos e acabamentos não se adaptam a todos os sistemas. Se o objetivo é um estilo clássico, como o neoclássico ou cottage, que utiliza puxadores altos e ornamentados, as portas de abrir são mais indicadas, já que esses detalhes não funcionam bem em portas de correr. Além disso, esses estilos remetem a períodos históricos em que portas de correr não existiam, garantindo uma autenticidade estética.


Os puxadores do tipo cava são muito elegantes, mas nem sempre são práticos. Em alguns modelos, eles funcionam bem para empurrar, mas não são eficientes para puxar, o que pode ser um problema dependendo do uso pretendido.


Em áreas úmidas, como banheiros, o contato direto com puxadores de alumínio é mais adequado, pois evita que a umidade atinja o MDF, que, se exposto ao contato frequente com água, pode estufar. MDF exposto a umidade, especialmente quando utilizado com puxadores que não protegem suas bordas, tende a sofrer deformações com o tempo.


Os acabamentos em laca são uma opção sofisticada que pode ser aplicada em portas de ambos os tipos, oferecendo a vantagem de retoques e mudanças de cor ao longo do tempo. No entanto, o custo elevado da laca, que utiliza tinta de PU (poliuretano) endurecida com catalisador, pode ser um fator limitante para muitos. Esta tinta é superior ao esmalte sintético comum, mas também mais cara devido ao seu processo de aplicação.


Puxadores embutidos do tipo concha são outra opção interessante, especialmente para portas de correr, pois permitem o deslize sem interferência, já que ficam alinhados com a superfície da porta. É importante não confundir esses com os puxadores concha tradicionais, que ficam para fora e podem atrapalhar o movimento.


Conciliação


Ao escolher o sistema e o acabamento das portas, é essencial considerar a conciliação entre estilo, custo, viabilidade técnica e durabilidade. Cada ambiente exige uma análise cuidadosa para garantir que o design seja não apenas esteticamente agradável, mas também prático e sustentável a longo prazo. A escolha correta surge da combinação de espaço, estilo, uso, orçamento e viabilidade técnica. Por isso, é fundamental buscar orientação de profissionais que possam oferecer suporte técnico e estético, assegurando a execução perfeita dos móveis.


Tecnologia


No universo das ferragens para mobiliário, as aparências enganam: peças que parecem idênticas podem variar em preço em até 750%. Por exemplo, as dobradiças tipo caneco, comumente usadas, podem custar menos de R$ 5,00 na versão mais simples, enquanto modelos mais sofisticados podem ultrapassar R$ 30,00 por unidade. Isso também vale para trilhos, réguas puxadoras, kits de portas de correr e outras ferragens, que apresentam variações significativas em espessura, material e qualidade.


É importante saber exatamente qual ferragem está sendo fornecida pelo marceneiro e conferir as especificações do contrato. Visitar lojas especializadas em ferragens de mobiliário pode ser uma maneira eficaz de se familiarizar com a qualidade e as diferenças dos materiais, garantindo que a escolha feita para os móveis seja a melhor em termos de durabilidade e funcionalidade.



Fonte das imagens: internet.

Texto por Arquiteto Gabriel Noboru Ishida - www.arkdesign.com.br


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